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Menina colombiana que levou mais de 60 horas para morrer em frente às câmeras de jornalistas

Foto: Frank Fournier
A BBC reproduz os relatos de cinco vencedores do prêmio sobre como eles como registraram as imagens que ficaram famosas mundialmente.

Frank Fournier descreve como ele captou a trágica imagem de Omayra Sanchez, uma menina de 13 anos que ficou presa em entulhos deixados pelo deslizamento causado pela erupção de um vulcão na Colômbia, em 1985.

Funcionários da Cruz Vermelha teriam feito repetidos apelos ao governo por uma bomba para baixar o nível da água para ajudar a libertar a menina. Os socorristas acabaram desistindo e passaram o resto do tempo com ela, confortando-a e rezando com ela. Ela morreu cerca de 60 horas depois de ficar presa.

A fotografia teve um grande impacto quando foi publicada porque pessoas no mundo inteiro já conheciam a agonia de Omayra pelas câmeras de TV.

A imagem gerou debates sobre o poder da tecnologia que teria permitido que o mundo acompanhasse de forma tão íntima os últimos momentos da vida da menina, mas ao mesmo tempo foi incapaz de salvá-la.

Acompanhe, a seguir, o relato do fotógrafo Frank Fournier:

"Eu cheguei a Bogotá de Nova York uns dois dias depois da erupção do vulcão. A área para onde eu precisava ir era muito remota. (Chegar até lá) envolvia uma viagem de carro de cinco horas e depois mais duas horas e meia de caminhada.

O país também estava num tumulto político. Pouco antes da explosão, o Palácio da Justiça, em Bogotá, havia sido tomado por guerrilheiros de esquerda do M-19. Muitas pessoas tinham sido mortas e isso tinha tido um grande impacto na forma como as pessoas da cidade de Armeryo foram ajudadas. O Exército, por exemplo, havia sido mobilizado para a capital.

Eu cheguei ao vilarejo de Ameroyo de madrugada, cerca de três dias depois da explosão. Havia muita confusão, as pessoas estavam em choque e precisando desesperadamente de ajuda. Muitos estavam presos em entulhos.

Eu encontrei um fazendeiro que me contou dessa menininha que precisava de ajuda. Ele me levou até ela, ela estava praticamente sozinha, havia apenas algumas pessoas em volta e alguns funcionários de resgate ajudando outra pessoa perto dali.

Ela estava num grande lamaçal, presa da cintura para baixo por concreto e outros restos das casas que haviam desabado. Ela estava ali por quase três dias. Começava a amanhecer e a pobre menina estava sentindo dores e muito confusa.

Em toda parte, centenas de pessoas estavam presas. Os funcionários de resgate tinham dificuldade em chegar até as vítimas. Eu conseguia ouvir as pessoas gritando por ajuda e depois silêncio, um silêncio sinistro. Era muito assustador. Havia alguns helicópteros, alguns que haviam sido emprestados por uma companhia de petróleo, tentando ajudar as pessoas.

E daí tinha essa menininha e as pessoas não tinham poder para ajudá-la. Os funcionários de resgate voltavam para falar com ela, fazendeiros locais e algumas pessoas que tinham algum tipo de ajuda médica. Eles tentavam confortá-la.

Quando eu tirei as fotos eu me senti completamente impotente na frente dessa menininha, que estava enfrentando a morte com coragem e dignidade. Ela podia sentir que a vida dela estava indo embora.

Eu achei que a única coisa que eu podia fazer era retratar adequadamente a coragem, o sofrimento e a dignidade dessa menininha e esperar que isso mobilizaria as pessoas a ajudar aqueles que haviam sido resgatados e salvos.

Eu senti que eu tinha que retratar o que essa menininha teve que passar.

A essa altura, Omayra já perdia a consciência, às vezes recobrando-a. Ela até me perguntou se eu podia levá-la para a escola porque ela estava preocupada que chegaria atrasada.

Eu dei o meu filme para alguns fotógrafos que estavam voltando para o aeroporto e pedi para que eles o mandassem para o meu agente em Paris. Omayra morreu cerca de três horas depois de eu chegar lá.

Na hora, eu não percebi o poder da fotografia, a forma como o olho da menina se conectou com a câmera.

A fotografia foi publicada na revista Paris Match alguns dias depois. As pessoas ficaram muito perturbadas porque o drama de Omayra havia sido capturado pelas câmeras de TV e levado ao mundo. Daí a minha fotografia dela foi publicada depois de ela ter morrido.

As pessoas me perguntavam: 'Por que você não a ajudou? Por que você não a tirou de lá?' Mas era impossível.

Houve alarde, debates na televisão sobre a natureza do fotojornalismo, se o profissional era uma espécie de abutre. Mas eu senti que era importante que eu registrasse a história e eu fiquei mais feliz pelo fato de ter havido alguma reação. Teria sido pior se as pessoas não tivessem se importado.

Eu sou muito claro sobre o que eu faço e como faço e eu tento fazer o meu trabalho com o máximo de honestidade e integridade possível. Eu acredito que a fotografia ajudou a levantar dinheiro de todo o mundo e ajudou a destacar a irresponsabilidade e a falta de coragem dos líderes de governo.

Houve uma falta de liderança óbvia. Não havia planos de evacuação, embora os cientistas tivessem previsto a extensão catastrófica da erupção do vulcão.

As pessoas ainda acham a foto perturbadora. Isso destaca o poder duradouro dessa pequena menina. Eu tive sorte porque pude agir como uma ponte para ligar as pessoas com ela. É a mágica da coisa.

Há centenas de milhares de Omayras pelo mundo – histórias importantes sobre os pobres e os fracos –, e nós, fotojornalistas, estamos lá para criar a ponte.

A questão do poder da imprensa é muito mais importante hoje do que nunca porque estamos sob muita pressão do lado comercial.”

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